De todos os
animais do mundo, há os que geram afeto, os que trazem medo e os que repulsa
dão. O cachorro e o gato são dois dos exemplos que estão atrelados ao homem,
seja como companheiro, consolador ou protetor. O oposto disso são os bichos
selvagens, aqueles que vivem em florestas densas, em locais específicos e dos
quais o ser humano, tão imponente, soberano e inteligente, implora por manter
distância. Racional, neste caso, é ficar longe de um leão, de uma onça ou
cobra, porque a prudência, em determinadas situações, toma a frente quando o
assunto é coragem. E existem os animais que nos causam asco. A barata está
neste seleto grupo, ao lado daquele que talvez seja o maior dos injustiçados: o
rato.
Eu não consigo
entender por que o rato é vítima de tanto desprezo. É certo que a sua anatomia
arredondada, com pelos finos espichados, inegavelmente sujo na maioria das
vezes, de andar veloz, olhos pretos, patas estreitas, rabo longo e fino, orelha
em pé e dentes inconfundíveis fazem desse bicho um aterrorizador de gente.
Embora, é pertinente que indaguemos: o rato não seria um coelho em tamanho
miniatura? A maioria dirá que sim, mas ciente de que o coelho é mais afável do
que seu semelhante compacto. Todavia, retomo: fica aqui um manifesto contrário
à marginalização do rato.
Se a sua marca
é a aparência pouco amigável e a higiene que nunca teve é por um motivo muito
simples: o rato é um miserável. Tem como lar esgotos ou forros, vive dos restos
que a sociedade ignora e quando se vinga, urinando na água das chuvas, é
novamente achincalhado por causa da tão profanada leptospirose. O rato é vítima
do meio, e ao rebelar-se é desprezado e combatido. Mas se algo traz riscos ao
homem, que as iniciativas sejam tomadas, mesmo porque, do contrário, o povo irá
bradar protestos com razão.
Entretanto,
não seria indevido lembrar de algumas utilidades do pequeno bicho. A principal
delas é servir de cobaia ao que os homens irão desfrutar adiante. Se o assunto
são novos medicamentos, formas alternativas de tratamento, chama o rato.
Precisa testar qualquer inovação da área da medicina, eis que o roedor mais
famoso do mundo se submete aos experimentos do bicho homem. Enfim, dizer que
muitas vidas são salvas graças aos simulados feitos com ratos, é mais do que
justo. É mais ou menos assim: o rato dá a vida para que a sua seja melhor. E
você, daria a vida por um animal desses?
Até por toda
essa ressalva em relação aos ratos, caímos no senso comum de classificar esse
ou aquele político, daqui e de todos os lugares, como um deles. O que é uma
injustiça elevada, pois o rato não merecia ser vítima de metáfora tão
imprópria. Porque o rato assusta, espanta, traz doenças, mas não exerce
traições como as que os nossos representantes já se habituaram a nos imputar. O
pequeno roedor não te ataca, não insulta, não implementa despautérios, ainda
que um pedaço de queijo se coloque insinuante.
O político, sim.
Mesmo sem motivo, sem justificativa, ele dá o golpe e te joga na lona. Ele faz
do impensável e do desmedido uma rotina, algo que resigna o cidadão, mesmo que
as insanidades devessem revoltar o morador que discorda do mandatário. Mas
revoltar-se como, se a maioria nem ciência tem dos descabidos e, se tem, julga
tudo dentro da normalidade, passivamente? É dos mais absurdos dilemas que o
indivíduo de hoje vive. Ele que vota mal, é ultrajado e lesado e, tendo em mãos
uma lista cheia de impropérios e insucessos, regressa às urnas quatro anos mais
tarde para dar um tiro no próprio pé.
Eles continuarão
a chegar quietos, farejando e expondo os dentes como sinal de contentamento.
Caso se encontrem em situação de privilégio, irão roer as benesses que por si foram
instituídas. Os desatinos podem ter como marca a lentidão, a melhor e mais
certeira forma de iludir alguém. Mas não notar o que é descarado soa como autonegligência,
e a responsabilidade do dolo passa a ser da vítima também. E quando você menos
esperar, quando tudo aparentar calmaria, poderá não ser um rato a subjugá-lo de
modo tão estúpido.
Parabéns pelo blog Thiago!!
ResponderExcluirObrigada por compartilhar conosco seus pensamentos..