O vídeo que mostra a assessora do senador Ciro Nogueira (PP-PI) em cenas
íntimas é só o símbolo do que de mais trágico acomete a política brasileira
desde sabe-se lá quando. Mas antes de entrar no mérito da política, falemos um
pouco sobre a tal da intimidade.
O contra-senso talvez nunca esteve tão evidente como agora. Se cada vez
mais nós nos isolamos em tecnologias (computadores, celulares, iPhones, tablets, máquinas fotográficas), algumas delas nos expõem a um público
muito extenso. As redes sociais nos escancaram, mas elas fazem isso porque o
nosso dedinho comanda a mais elementar das ações.
O outro viés dessa conversa são as celebridades, ponto de discussão do
programa Na moral, de Pedro Bial, da
última quinta-feira, dia 12 de julho. O ator, o músico, o político são pessoas
públicas, e o lado bom da fama, como altas aquisições financeiras e a rasgação
de seda exagerada, tem a companhia paralela do ônus de ser evidência a todo
momento.
Embora não haja relevância nenhuma, alguns internautas são obrigados a
se deparar com a “notícia” de que o cara da novela almoçou com a esposa e os
filhos no restaurante x ou y. Mas os que não se interessam muito por isso são a minoria. Até aí, se
não houver uma invasão deliberada do espaço do famoso, é o tipo de situação com
a qual ele necessita familiarizar-se, uma vez que é indissociável.
O problema é a invasão. O cara está em casa e uma criatura sobe na
árvore para fotografá-lo (sem contar que, com a capacidade de zoom das máquinas de hoje, nem é preciso colar na pessoa desejada). Ou caminhando pela rua, a celebridade topa com um
cinegrafista. Ou alguém com o microfone na mão, mesmo soba negativa da
estrela, insiste em coletar um depoimento.
Os conteúdos digitais fazem parte disso, mas podem ser enquadrados em um
novo âmbito. Como a internet abre
o risco de se quebrar a barreira entre o que está protegido e a esfera pública,
estar atento a anti-vírus eficientes e e-mails suspeitos ajuda a não vermos
fotos nossas de mais ou dinheiro no banco de menos.
E, nesse ponto, parece ter sobrado disposição ao “Furacão” para se
divertir, mas lhe faltou um mínimo de inteligência. Porque se a precaução não é
total e os crimes digitais são difíceis de rastrear, além de não terem legislação
específica, melhor curtir o sexo a dois, ao invés de ter como companhia uma plateia
repleta. A não ser que isso tenha sido feito com o intuito de se colocar na
mídia – o que é improvável e de uma burrice tremenda –, faltou prudência à
funcionária de um dos nossos ilustres parlamentares.
A outra ponta dessa história é o fato de tudo convergir na política. Não
faltam dedos apontando para a assessora e mencionando o absurdo que é alguém,
na posição dela, estar envolvida em uma história dessas. E fatalmente, ao
retornar das férias, a dita cuja será demitida do cargo.
Mas de sacanagens o congresso nacional está repleto. Não é necessário
alguém expor a imagem do nosso parlamento ao ridículo, mesmo porque os
representantes já fazem isso há algum tempo e com performance pra lá de convincente. Cá pra nós, nada fora da normalidade, dos padrões aos quais estamos adaptados.
Uma lei mal votada, uma lei não votada, o dinheiro da corrupção que
seria útil à sociedade não são piores do que um vídeo de uma assessora? O
lobby, o favorecimento de empresas, a disputa por poder sem um compromisso
social não depõem mais contra o congresso? Cidadão sem educação, transporte e saúde de
qualidade, sem saneamento básico, com estradas péssimas não atentam mais contra
o povo do que cenas picantes de alguém?
O
vídeo da assessora, que atende pelo codinome “Furacão da CPI”, é só uma
caricatura, um símbolo deformado ou evidente da nossa política. Ela será
escorraçada do senado, em nome da imagem casta do congresso nacional. Em prol
da imagem nada pura do próprio parlamento, que ela fique. E que um vídeo íntimo não
distorça a história: a nossa política não é menos recriminável do que uma pornografia.
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