sexta-feira, 3 de agosto de 2012

E SE O BRASIL NÃO FOSSE O PAÍS DO FUTEBOL?

Poderíamos ser, então, o país do judô, da natação ou do iatismo, talvez. Mas a história tem dos seus caprichos e ela quis que o Brasil vibrasse com a bola nos pés, com a bola na rede. Como quem diz “o que é teu está guardado”, o destino olhou para esse bando de mulatos, cafuzos, mamelucos, pretos e brancos e julgou que o futebol poderia imitar a vida, parafraseando Oscar Wilde. E assim foi.

O acontecimento decisivo contradisse as expectativas. Era a quarta Copa do Mundo, e depois de duas edições canceladas (1942 e 1946) em virtude da segunda guerra mundial, as principais seleções do mundo chegavam ao Brasil para a disputa do torneio entre selecionados mais importante.

Brasil, Uruguai, Espanha e Suécia formaram um quadrangular final, por terem ficado em primeiro lugar em seus respectivos grupos. Coincidiu que, no último jogo, os rivais sul-americanos se enfrentaram em condições de conquistar o título, pois venceram seus jogos ante os europeus. Mesmo com a vantagem do empate e tendo saído na dianteira do placar, um Maracanã com 200 mil pessoas viu a seleção ruir e os uruguaios comemorarem o bicampeonato. Éramos os vira-latas de Nelson Rodrigues.


O contraditório está aí. A derrota não só serviu para a seleção abandonar o uniforme branco, como para fazer-nos querer a Copa ainda mais. Oito anos depois do Maracanazzo, o Brasil com Pelé e Garrincha levantava a taça, exorcizava seus medos, entrando definitivamente na rota do futebol. Ao invés da decepção nos afastar do esporte, fez-nos salivar pelo primeiro título. Ao gostar daquilo, vieram outros quatro e sabe-se lá quantas lágrimas já não rolaram ao vermos vitórias argentinas, italianas, francesas e holandesas sobre nós.

Se o Brasil tivesse vencido aquele mundial, a nossa paixão teria sido ainda maior ou acomodaríamos. Mas se o evento de 1950 tivesse acontecido em outro país e a seleção, perdido, aqueles três esportes – ou outro qualquer – poderiam ser o que o futebol é.

E se o Brasil fosse o país do judô? Imagine o brasileiro grudado na TV, xingando o juiz que puniu o judoca injustamente, reclamando com o atleta que está em desvantagem no jogo de mãos. E na hora dos golpes? A cada possibilidade de yuko ou wasari, uma expectativa a mais, uma unha a menos. No momento do ippon, o dorso do adversário – de preferência argentino – batido no chão, um pulo, o soco no ar e o grito de “é campeão”.


Mas o Brasil poderia ser o país da natação. O público atento às braçadas, reunindo-se em bares a torcer pelo segundo a menos. Insatisfeito com Thiago Pereira após um quarto lugar, a não medalha, e os confrontos nas ruas começariam. O torcedor chamaria Cesar Cielo de “pipoqueiro” por se recusar a nadar o revezamento 4x100. Impossível não pensar na torcida vestindo o maiô, beijando a bandeira brasileira em dia de decisão na natação, para comemorar mais um título.

Poderíamos ser o país do iatismo também. A torcida seria a caráter: colocaríamos a vela no centro da sala. Saltitando de um lado a outro, simulando instintivamente o melhor vento. Ao passar pela baliza final, o choro da torcida, o grito que impõe o nome de Robert Scheidt em meio a palavrões, exultando o campeão, a sua conquista, o nosso contentamento.

Viu só? Não seria tão ruim assim ter outros esportes principais. Torcer pela braçada mais veloz, pelo golpe certeiro ou pelo vento na cara, sem ninguém à frente. Se o Brasil não tivesse sido derrotado em 50, dentro de casa, talvez não ligaríamos tanto a TV para assistir à bola rolar na grama. Mas a seleção perdeu aquela Copa, venceu outras cinco depois e nessa altura do texto nos vemos contentes ou não com as participações brasileiras em algumas modalidades olímpicas. Mas, isso à parte, rola agora um futebolzinho com os amigos ou algum jogo na TV?

2 comentários:

  1. Brasil é o país da festa. Tudo o que é festa generalizada, vira marca indelével na história e no comportamento nacional.

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  2. Errado : se o Brasil não fosse o país do Futebol, talvez seríamos o país do Críquete ou do Rugby, pois eles tbm foram introduzidos no Brasil por Charles Miller.

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