segunda-feira, 30 de julho de 2012

A BOLA NA REDE OU O SEGUNDO A MENOS

É evidente que eu prefiro futebol. Esse esporte que veio no encalço da guerra, em aproximadamente 2 mil a.C. na China, e que empolga os corações nossos e nos faz agir desmedidamente, variando da loucura ao patético em questão de segundos. O mesmo que manipula multidões, submetendo os ouvidos da massa a um rádio de pilha calejado e os olhos do povo à TV, aparelho que traz, lado a lado, a imagem do êxito ou do sofrimento. E quanto mais vemos e ouvimos, dobramos os joelhos ao futebol, o mesmo que nos enraivece, entristece, aquele que faz de nós um felizardo.

Mas se o auge do jogador de futebol é ir à Copa e vencê-la, é possível afirmar que nenhum atleta do mundo anseia tanto a vitória como o esportista que chega a uma Olimpíada. A prova arrebatadora disso são as reações à derrota. O sofrimento do perdedor olímpico é sensivelmente maior que o do jogador derrotado em uma partida decisiva de mundial. Para o corredor, o nadador ou o judoca, fica a sensação incurável de quatro ano inválidos. O boleiro sente, mas dentro de um mês ele terá as mágoas curadas pelos campeonatos nacionais ou continentais. No esporte que conduz uma bola com os pés, a vitória está banalizada. A derrota, também. O boleiro é insensível ao hino. Tudo é muito corriqueiro.


E a frustração da derrota é maior nas Olimpíadas porque o atleta, na maioria das vezes, disputa só. A responsabilidade do sucesso ou do fracasso está sobre as costas de uma pessoa, devotada a vencer o outro e a romper os limites de si mesmo. É claro que há os esportes coletivos como o vôlei, basquete, handebol, mas pergunte aos jogadores dessas modalidades qual o título mais desejado. Ao contrário do jogador de bola, eles dirão que os Jogos Olímpicos são a cereja do bolo. A medalha de ouro será importante à carreira de Neymar, especialmente porque o ineditismo do triunfo torna a consagração mais significativa. Porém, é certo: o atacante santista trocaria a hipotética medalha dourada pela Copa do Mundo sem titubear.

O futebol, por ter um número maior de jogadores e, por isso, a responsabilidade torna-se dividida, não incumbe o seu profissional do mesmo modo que os Jogos. Cabe ao atleta de Olimpíadas atingir o ápice da sua forma física e mental. Qualquer vacilo na preparação ou desvio de concentração custa-lha a medalha, quatro anos de todo o ciclo. Ao jogador é importante estar bem física e mentalmente, mas essa não é condição sine qua non para a vitória, posto que o coletivo pode se encarregar de suprir deformações individuais.

No viés disciplinar, o futebol também perde. A regra já não é clara, como teima em pleitear o comentarista Arnaldo Cezar Coelho. Para piorar, o nível dos nossos árbitros é de medíocre para baixo, e é cada vez mais comum o melhor não vencer por culpa de erros dos juízes. Isso posto, o desrespeito inunda o futebol dentro e fora de campo, tendo-se noção menor de que o jogo é só um esporte. Após o apito final, a vida segue como de costume.


Os esportes olímpicos têm tudo isso muito bem definido. Os eventos são tratados como show, entretenimento, e o público usa o esporte para distração. No futebol, procede-se o inverso: a disputa se apodera do homem e submete-o a práticas animalescas e tribais em não poucas vezes. Em raras ocasiões vemos badernas dentro dos limites da disputa ou nas arquibancadas, quando de uma competição olímpica. A disciplina, inclusive extra-competição, é requisito fundamental para que o praticante seja considerado um atleta. Do contrário, o próprio nível de disputa ou a normatização de cada modalidade se encarrega de abolir o esportista.

O que muito se discute é a legitimidade do futebol como modalidade olímpica. Mesmo com discussões para excluir a disputa entre 22 jogadores, o futebol ficou por um simples motivo: dá dinheiro. O esporte pouco glamourizado em tempos como os atuais converge multidões, pulsa audiência, enche estádios, traz aquilo que os políticos do esporte mais gostam. Disputa? Equilíbrio? Emoção? Não. Lucro.

Mesmo cada esporte tendo as competições mundiais, as Olimpíadas sintetizam o esforço, o páreo e a glória. Nesses esportes, a margem para imprevisto é mínima e normalmente vence aquele que melhor se prepara. Se nos Jogos Olímpicos o atleta cai e chora ou pula e chora, no futebol ele cai, pula, vence, perde, e pouco muda, a não ser para o torcedor, um amante desse esporte imponderável. O apaixonado vibra ou esbraveja pelo seu time e reconhece nas Olimpíadas um evento e tanto.

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