quarta-feira, 3 de outubro de 2012

SE RUSSOMANO FICASSE QUIETINHO, NÃO SERIA O MONSTRO QUE É

Não que eu tenha certa propensão a gostar do Russomano, candidato do PRB à prefeitura de São Paulo. Ao invés. Celso Russomano surgiu para a política pelas mãos de Maluf, e quem tem ou teve qualquer relação com o dito cujo já está com a ficha suja, porque o descendente de libaneses é raposa, e não é de hoje. É evidente que o afilhado do engenheiro saiu do PP quando viu que o Don Corleone do partido continuaria a centralizar todas as ações nele, Maluf. Russomano queria ter vida própria, e, ao lado de Paulo Salim, o máximo que iria conseguir era ser deputado. Ele queria mais.

E não é que Russomano está na primeira posição na preferência do paulistano para assumir o cargo de prefeito? Por ora, bota os dois maiores partidos do Brasil no bolso, com Serra (PSDB) e Haddad (PT) empatados na segunda posição. O nanico aproveitou o apelo que tem com as classes menos favorecidas, conquistado na época em que era repórter sobre direito do consumidor, para surpreender os mais apressados. Não só isso. Aliou-se aos evangélicos, uma massa sem fim. De quebra, conseguiu dois benefícios: votos em bloco de uma classe enorme e unida e a grana dos fiéis, que entra e sai das igrejas sem pagar impostos e é usado sabe-se lá como. Russo tem a mão lavada aqui. Amanhã lavará a dos pastores? Política e igreja se misturando? Preocupante. De qualquer modo, moral da história: o candidato é figurinha certa no segundo turno do pleito, com “sérios riscos” de vencer a eleição municipal mais importante do país.


Falo em “riscos” porque é assim que a grande imprensa do estado enxerga Celso Russomano. Três momentos nessa corrida eleitoral foram marcantes: primeiro, Serra nadava de braçada e o noticiário, o mais neutro possível, posto que era desnecessário atuar em cenário tão calmo. Segundo, Russomano, com quatro mandatos de deputado federal, além de uma candidatura ao governo de São Paulo, em 2010, salta a primeiro e Serra corre o risco de nem ao segundo turno ir, em vista do crescimento do petista Fernando Haddad, muito em função das entradas de Lula e Dilma na campanha. A imprensa fica atônita. Terceiro, em dez dias Russomano despenca nas intenções, e, mesmo continuando na dianteira, vê a imprensa comemorar, pois agora a derrota no segundo turno é mais concreta.

O momento de apreensão do jornalismo paulista, quando da primeira colocação e manutenção na ponta do peerrebista, foi externado na série de denúncias que surgiu justamente nesse período. Que Russomano não deve ser flor que se cheire, não resta dúvida, já que quase ninguém é. Mas, dois questionamentos: Por que o lado podre do candidato apareceu somente depois que a sua vitória parecia consumada? Fernando Haddad e, especialmente, José Serra são tão puritanos, a ponto de parecerem anjinhos ao lado do capeta Russomano?


É que outra vez o nosso jornalismo tenta vender a aparência de isenção, quando na realidade nem precisaria. Soaria menos hipócrita. Porque muito mais fácil e profissional seria se os veículos declarassem publicamente que têm como preferência o candidato X, dizer por que o escolheram, porém tratar todos os concorrentes com igualdade de espaço e profundidade e compromisso com as informações, independente de que momento ou posição um ou outro se encontre. Seria bem mais digno e profissional, assim como ocorre nos Estados Unidos. Lá, as empresas comunicacionais deixam evidente de que lado estão, e mesmo assim conseguem atuar num nível de profissionalismo jornalístico à frente do Brasil.

Embora a sociedade esteja mais atenta às investidas da imprensa, os altos e baixos de uma eleição estão, mais do que se devia, à mercê do jornalismo que, por sua vez, decide a agenda do que aconteceu ou não. Os menos instruídos, aqueles que disponibilizam de poucos canais de informação, ficam mais vulneráveis ao que a imprensa gorda divulga. Mas daí a afirmar que o jornalismo decidirá um pleito é um exagero que não cabe para o ano de 2012. Mesmo Russomano não simbolizando uma ruptura, uma vertente revolucionária – aliás, longe disso –, sente na pele o desagrado dos brutamontes da informação. Ele se tornou o vilão que jamais seria se não incomodasse os também grandalhões, só que da política, Haddad e, principalmente, Serra.

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