Não que eu tenha
certa propensão a gostar do Russomano, candidato do PRB à prefeitura de São
Paulo. Ao invés. Celso Russomano surgiu para a política pelas mãos de Maluf, e
quem tem ou teve qualquer relação com o dito cujo já está com a ficha suja, porque
o descendente de libaneses é raposa, e não é de hoje. É evidente que o afilhado
do engenheiro saiu do PP quando viu que o Don Corleone do partido continuaria a
centralizar todas as ações nele, Maluf. Russomano queria ter vida própria, e,
ao lado de Paulo Salim, o máximo que iria conseguir era ser deputado. Ele
queria mais.
E não é que
Russomano está na primeira posição na preferência do paulistano para assumir o
cargo de prefeito? Por ora, bota os dois maiores partidos do Brasil no bolso,
com Serra (PSDB) e Haddad (PT) empatados na segunda posição. O nanico aproveitou
o apelo que tem com as classes menos favorecidas, conquistado na época em que
era repórter sobre direito do consumidor, para surpreender os mais apressados. Não
só isso. Aliou-se aos evangélicos, uma massa sem fim. De quebra, conseguiu dois
benefícios: votos em bloco de uma classe enorme e unida e a grana dos fiéis,
que entra e sai das igrejas sem pagar impostos e é usado sabe-se lá como. Russo tem a mão lavada aqui. Amanhã lavará
a dos pastores? Política e igreja se misturando? Preocupante. De qualquer modo,
moral da história: o candidato é figurinha certa no segundo turno do pleito,
com “sérios riscos” de vencer a eleição municipal mais importante do país.
Falo em “riscos”
porque é assim que a grande imprensa do estado enxerga Celso Russomano. Três
momentos nessa corrida eleitoral foram marcantes: primeiro, Serra nadava de
braçada e o noticiário, o mais neutro possível, posto que era desnecessário
atuar em cenário tão calmo. Segundo, Russomano, com quatro mandatos de deputado
federal, além de uma candidatura ao governo de São Paulo, em 2010, salta a
primeiro e Serra corre o risco de nem ao segundo turno ir, em vista do
crescimento do petista Fernando Haddad, muito em função das entradas de Lula e
Dilma na campanha. A imprensa fica atônita. Terceiro, em dez dias Russomano
despenca nas intenções, e, mesmo continuando na dianteira, vê a imprensa
comemorar, pois agora a derrota no segundo turno é mais concreta.
O momento de
apreensão do jornalismo paulista, quando da primeira colocação e manutenção na
ponta do peerrebista, foi externado na série de denúncias que surgiu justamente
nesse período. Que Russomano não deve ser flor que se cheire, não resta dúvida,
já que quase ninguém é. Mas, dois questionamentos: Por que o lado podre do
candidato apareceu somente depois que a sua vitória parecia consumada? Fernando
Haddad e, especialmente, José Serra são tão puritanos, a ponto de parecerem
anjinhos ao lado do capeta Russomano?
É que outra vez o
nosso jornalismo tenta vender a aparência de isenção, quando na realidade nem precisaria.
Soaria menos hipócrita. Porque muito mais fácil e profissional seria se os
veículos declarassem publicamente que têm como preferência o candidato X, dizer
por que o escolheram, porém tratar todos os concorrentes com igualdade de
espaço e profundidade e compromisso com as informações, independente de que
momento ou posição um ou outro se encontre. Seria bem mais digno e
profissional, assim como ocorre nos Estados Unidos. Lá, as empresas
comunicacionais deixam evidente de que lado estão, e mesmo assim conseguem
atuar num nível de profissionalismo jornalístico à frente do Brasil.
Embora a
sociedade esteja mais atenta às investidas da imprensa, os altos e baixos de
uma eleição estão, mais do que se devia, à mercê do jornalismo que, por sua
vez, decide a agenda do que aconteceu ou não. Os menos instruídos, aqueles que
disponibilizam de poucos canais de informação, ficam mais vulneráveis ao que a
imprensa gorda divulga. Mas daí a afirmar que o jornalismo decidirá um pleito é
um exagero que não cabe para o ano de 2012. Mesmo Russomano não simbolizando
uma ruptura, uma vertente revolucionária – aliás, longe disso –, sente na pele
o desagrado dos brutamontes da informação. Ele se tornou o vilão que jamais
seria se não incomodasse os também grandalhões, só que da política, Haddad e,
principalmente, Serra.
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